sexta-feira, 27 de março de 2015

História da semana #87 - O chamado

Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: "Quem enviarei? Quem irá por nós? " E eu respondi: "Eis-me aqui. Envia-me! "
Isaías 6:8


Isaías foi um dos maiores profetas que já falaram em nome de Deus, em um contexto político conturbado, ele foi a voz que representou a vontade de Deus. Em meio a um povo idólatra ele foi obrigado a renunciar qualquer prestígio para se tornar um homem simples e muitas vezes, odiado. Boa parte desta devoção se deve ao seu chamado, algo milagroso, inimaginável, que serviu de alicerce e apoio para sua carreira.
Um jovem Isaías caminhava pelas ruas empoeiradas de Jerusalém, vestia trajes finos, discretos, mas se notava certa distinção naquele homem. Ainda mais na situação econômica e política da época, com uma crise alarmante, a lepra do rei e a constante ameaça assíria, o modo de vida dos habitantes de Jerusalém mudara. Estocavam comida, economizavam, pois os impostos subiam com os constantes tributos que tinham de ser pagos aos suseranos de Judá. O medo era ainda maior, tendo em vista a destruição de Israel, irmão e país vizinho, se bem que a população judia indagava-se se Israel ainda podia ser chamada de país. Com a crise aumentaram-se o número de pedintes nas esquinas e as revoltas que lutavam pelo "impeachment" do rei Uzias, ou de seu filho Jotão que liderava o reino frente a doença de seu pai. Em meio a tanto caos, Isaías era notado, pensamentos obscuros sobre o futuro daquele reino antes abençoado por Deus tomavam sua cabeça, mas a certeza da salvação para os justos o confortava, um leve sorriso tomou conta de sua face, barba bem feita, olhos escuros, aparência jovem, trajes finos, Isaías era um nobre e sabia exatamente o que o colocara numa posição tão desejada. Sua família era uma das poucas que mantinham as tradições monoteístas no reino. Em meio ao caos o povo e os líderes se voltavam a deuses estrangeiros, nem faziam ideia de que isso causara a ruína de seu povo. Isaías era estudioso, ele sabia o motivo de tudo, sabia que tão logo o povo se voltasse a adorar a Deus, suas riquezas e prosperidade seriam restituídas.
Naquela caminhada no meio da tarde, Isaías passou pelo palácio, pela praça e pelo mercado, olhou as bancas, até que encontrou a que queria, várias frutas se espalhavam pelo balcão e pelas prateleiras, após fazer o pedido encomendado pela mãe, fez um comentário sobre os preços altos dos produtos. Fazer o quê?- indagou o comerciante- com está crise...

Na volta para casa, localizada na parte nobre da cidade, Isaías novamente se perdeu em seus pensamentos, desta vez o salvador esperado e o céu circundavam a mente do jovem, quem dera o Messias viesse  nos dias de hoje, pensou. De repente ele começou a notar algo estranho, já no por do sol, ruas quase vazias, ele sentiu uma sensação diferente, correu até um beco, onde havia um banco, largou as compras no chão e de repente sentiu-se como voando em alta velocidade, quando percebeu, um cenário diferente daquele beco escuro e velho o cercava, não cabe aqui tentar adivinhar o maravilhoso cenário visto pelo jovem, era o céu, haviam coisas inimagináveis, anjos serafins cantando e glorificando ao Criador, e ele viu a Deus em sua forma mais gloriosa. Ficou atônito, conhecia a história de quando Moisés viu Deus de relance e ficou cego por um tempo, clamou, afinal era impuro e tina medo de morrer:
- Ai de mim! Estou perdido, pois sou pecador e vivo entre pecadores. 
Isaías, diferente de seus conterrâneos reconhecia seus pecados, sabia os erros que cometia, por isso não fugiu da culpa, mas admitiu seus erros. Quase que instantaneamente um dos anjos voou em direção a ele com uma brasa tirada do altar, ele tocou os lábios de Isaías e disse:
- Agora que está brasa tocou seus lábios, você está perdoado e suas culpas estão tiradas.
Logo após, foi a vez de Deus falar, uma voz inimaginável, que perguntava:
- Quem é que vou enviar? Quem será o mensageiro?
- Isaías sentiu algo diferente, prontamente respondeu com uma das frases mais motivadoras da Bíblia: - Eis-me aqui, Envia-me a mim.
Depois Deus deu algumas instruções a Isaías, uma mensagem a ser falada ao povo: 
Ele disse: "Vá, e diga a este povo: "Estejam sempre ouvindo, mas nunca entendam; estejam sempre vendo, e jamais percebam.
Torne insensível o coração desse povo; torne surdos os ouvidos dele e feche os seus olhos. Que eles não vejam com os olhos, não ouçam com os ouvidos, e não entendam com o coração, para que não se convertam e sejam curados".
Então Isaías perguntou: "Até quando, Senhor? " E ele respondeu: "Até que as cidades estejam em ruínas e sem habitantes, até que as casas fiquem abandonadas e os campos estejam totalmente devastados,
até que o Senhor tenha enviado todos para longe e a terra esteja totalmente desolada.
E ainda que um décimo fique no país, esses também serão destruídos. Mas, assim como o terebinto e o carvalho deixam o tronco quando são derrubados, assim a santa semente será o seu tronco".
Isaías 6:9-13
Após isso, Isaías voltou a realidade. Aquele beco pareceu mais feio, mais velho, afinal ele vira o céu. Não sabia se realmente foi ao levado aos céus, ou teve uma visão, mas tinha uma certeza em mente, iria pregar o evangelho, era uma mensagem dura a que devia ser falada, mas suas palavras anteriores o motivavam: Eis-me aqui, envia-me a mim. Não sabia quanto ficara naquele beco. Já era noite, sua família devia estar preocupada, ele enfim se deu conta de que as compras haviam sumido, mas isso nem importava, ele compraria as coisas no dia seguinte, o que não podia esperar era a mensagem, ele falaria a seus amigos, familiares e quem viesse pela frente.

Anos depois, o já velho e calejado profeta Isaías caminhava pelas ruas de Jerusalém, a pobreza em parte havia sido amenizada pelo rei Ezequias, mas a idolatria tomava conta da cidade, suas vestes não eram finas, mas vestes sujas, de lamento. A mensagem foi pregada, por autos custos, o ódio de um povo e a pobreza, o profeta tinha pensamentos sobre o futuro do povo, mas foi confortado pelo Messias que viria. Sua obra estava cumprida, mesmo impopular e sem um grande impacto no povo, ele sentia uma sensação sem igual: a do dever cumprido.

  

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