sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

História da semana #73- Aonde fores, irei

A história de Rute é uma das mais conhecidas da Bíblia. Apesar de não contar façanhas, milagres sobrenaturais, histórias de reis ou libertadores do povo, o livro de apenas quatro capítulos fala de uma mulher simples, porém fiel que fez de tudo para cuidar de quem amava. Não se sabe quem escreveu o livro, uns dizem ter sido alguém durante o exílio da Babilônia, no século V a.C. Outros atribuem a Samuel, ou um discípulo seu a autoria do livro. Isso é bem provável se analisarmos as circunstâncias, afinal Rute não era famosa, isso torna difícil aceitar a hipótese do livro ter sido escrito séculos depois da história, mas se Samuel o escreveu, talvez fosse por ter descoberto a história ao investigar os antepassados de Davi, cujo Deus escolheu por meio dele para reinar em Israel. A época da história é outro fator duvidoso. Sabe-se que foi na época dos juízes, mas não se afirma com exatidão em que ano. Josefo, historiador judeu que é fonte de diversas narrativas bíblicas, diz ter ocorrido durante o sacerdócio de Eli, possivelmente em seu início, já que Rute era nora de Raabe. Mas vamos a história, uma mulher caminhava pela estrada...
... Essa mulher estava de luto, notava-se isso pelas roupas pretas, isso indicava a morte de um ente querido, coisa nada rara em tempos de guerra. A mulher entra em sua casa. Lá as duas noras, igualmente de preto choravam. Eram consoladas por alguns poucos amigos. Noemi, a senhora do início, sentou-se e começou a falar:
- O que faremos agora?
Orfa, uma das noras disse:
- Ficaremos com a senhora, tem sido como uma mãe para nós, além disso, pelas leis de Moabe, é seu direito que fique conosco.
- Bem, eu estive pensando que poderia voltar a Belém, desde que meu marido morreu eu penso nisso, mas agora com essa tragédia, acho que o melhor é voltar logo para minha cidade natal.
Rute a nora mais velha, respondeu:
- A senhora tem todo o direito, já se passaram mais de 20 anos desde que veio até aqui.
- Tem razão Rute- respondeu Noemi- vou partir de volta a Belém o mais brevemente.
- Nós vamos com a senhora- disse Orfa.
- Bem veremos isso depois, abe acho que deveriam ficar.
Passados alguns dias, Rute e Orfa subiram até seus quartos e começaram a arrumar as coisas para viagem. Enquanto faziam as malas elas começaram a falar:
-  A senhora Noemi está nos pressionando a ficar- disse Orfa.
- É, mas se ela for sozinha, pode não sobreviver, a vida é difícil para uma senhora idosa e viúva, ainda mais quando não se tem nada.
- Acho que é nosso dever ir com ela.
Enquanto isso Noemi lembrava-se de quando era moça. Ela e Elimeleque se casaram e logo vieram os filhos, eles tinham um bom negócio em Judá, mas a seca assolou tudo. Restavam apenas algumas economias quando tomaram a decisão de ir a Moabe. Lá, eles planejavam ficar alguns poucos anos, a seca passaria e eles voltariam, mas a seca não passou tão rápido e eles construíram suas vidas ali. Os filhos cresceram e ela percebeu que o melhor era morar permanentemente em Moabe. Seus pensamentos foram interrompidos com um chamado:
- Noemi, a senhora quer ajuda com os móveis?
Era o senhor Neir, um grande amigo de Elimeleque que estava se oferecendo para ajudá-la.
- Claro- respondeu Noemi.
Enquanto isso era Rute que meditava. Começou a pegar as coisas do marido Malom, ela decidiu doa-las aos pobres, mas estava selecionando algumas para levar com ela. Ela olhou para as roupas e lembrar-se do tempo em que se conheceram. Foi durante a colheita. Ela procurava utensílios domésticos quando foi a loja de Elimeleque, lá conheceu Malom e seu irmão Quiliom. Eles cresceram juntos, Orfa, sua grande amiga se juntou ao grupo e logo a amizade levou ao casamento. Faziam apenas três anos desde que se casara, ainda lembrava do casamento que mesclava costumes judaicos e moabitas, havia aprendido a confiar em Deus, o deus de seu marido sobrepujara os deuses moabitas, a quem Rute largou. Mas agora ela só tinha a esse Deus. Malom e Quiliom não gostavam de guerra, mas a invasão filistéia no vilarejo os obrigaram a lutar até a morte. Agora Rute e Orfa se preparavam para sair de Moabe. Ela não deseja ficar ali, se voltasse a sua família sofreria preconceito por sua religião.
No dia da partida as três saíram carregadas de malas. Neir se ofereceu para levá-las até certo ponto onde presenteou a carroça para Noemi.
Ao chegarem as margens do rio que separava Judá de Moabe, Noemi insistiu novamente para que as noras ficassem. Orfa e Rute continuaram com sua decisão, mas Noemi explicou-as que em Judá os moabitas eram vistos com maus olhos, a escória da sociedade, devido a sua origem, aos deuses  que adoravam e ao longo histórico de guerras contra os israelitas. Acamparam ali. No dia seguinte Orfa comunicou a sua decisão de ficar em Moabe as companheiras de viagem. Noemi aproveitou a oportunidade e insistiu com Rute;
- Fique você também, você é jovem e poderá se casar novamente. Comigo, você não poderá se casar novamente, terá de ficar servindo a uma velha pobre e incapacitada.
Rute ouviu com atenção o mesmo discurso que ouvira tantas vezes de Noemi. Ela então respondeu:
- "Não insistas mais para que eu não vá. Aonde fores irei, aonde ficares, ficarei. Teu povo será o meu povo e teu Deus será meu Deus. Onde morreres, morrerei. Que Deus me castigue se não for a morte que me separará de ti."
Noemi sentiu que não adiantava insistir. Ela então aceitou Rute como sua filha e as duas partiram confiantes para Belém, onde Deus havia separado uma vida abençoada para elas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário