sexta-feira, 8 de abril de 2016

História da Semana #129 - O Prisioneiro Louco - Parte 01

"No princípio era o nada, mas o Eterno disse 'Haja Luz!' e houve luz. O nada se tornou tudo e o Eterno viu que era bom." As palavras do pai encantavam o filho Samá, as histórias que o pai contava envolviam e emocionavam a mente do garoto. Mas o tempo passou, a crise tomou conta de boa parte da Judeia, o pai morreu, e Samá ficou a margem de uma sociedade oprimida pelos romanos e cheia de ódio e egoísmo, parecia que as histórias de um Deus poderoso e cheio de amor haviam ficado para trás, não parecia haver esperança nas mentes daquele povo. O jovem Samá parecia ser o reflexo daquela sociedade, virou um batedor que roubava dos ricos mercadores que viajam pela estrada para Jerusalém. Se perguntava se aquilo era o que faria por toda vida, sonhava com uma vida como a que seu pai queria, mas não via muitas esperanças, se enxergava como uma vítima, colocava a culpa de tudo aquilo em Deus e nos outros. Será que haveria saída para ele?
A vida de Samá era tão bagunçada quanto a sociedade judaica daquela época, em grande parte porque o rapaz havia deixado que o mundo a sua volta tivesse o moldado. No meio de tantas opções ele havia escolhido não acreditar em nada, não eram só um ou dois que diziam ser o tão esperado Messias Judaico, haviam os fariseus, saduceus e até alguns estrangeiros pregando mensagens de deuses de suas terras. Nem mesmo o poderoso Deus que ele tanto admirara na infância parecia ter lugar na vida do garoto. Como um Deus que havia feito tudo surgir do nada poderia ter deixado tudo aquilo acontecer com ele? Mas numa manhã como qualquer outra, Samá iria ver sua vida piorar, ou será que melhoraria?

O rapaz observava o movimento calmo na estrada a alguns quilômetros de Jerusalém. De repente viu a uns duzentos metros um possível alvo, era um homem que viajava sozinho, parecendo ignorar os perigos da estrada. Ao passo de que o homem ia se aproximando, Samá ia se posicionando para atacá-lo, e observando o homem para descobrir onde ele estaria carregando o dinheiro. Talvez por estar tão concentrado no seu alvo, ele nem notou que não muito atrás vinha um outro homem em um cavalo, esse era notavelmente um soldado romano. Assim que o primeiro homem passou, Samá o atacou, pulou sobre ele já gritando, ordenando que entregasse o dinheiro. Mas ao invés de espanto, a expressão facial do suposto viajante foi um sorriso: "Te peguei seu ladrãozinho!", era um soldado disfarçado que logo desferiu um golpe contra Samá, derrubando-o. O garoto não demorou a reagir, havia aprendido a lutar, afinal seu estilo de vida não tendia a ser pacífico, acertou um chute na perna de seu adversário que logo recebeu reforço de seu parceiro que vinha logo atrás, agora eram dois soldados treinados contra o garoto. Mas ele não desistiu, não podia ser pego. Desviou um soco de um dos soldados e acertou um no braço do outro, mas não pareceu ser muito eficaz. Finalmente achou um espaço de tempo para pegar o punhal que havia deixado cair. Conseguiu causar um arranhão no rosto de um dos soldados, que não exitou em pegar sua espada e atacar o garoto que sentiu o golpe mas ficou de pé. O soldado que estava disfarçado, não tinha com o que reagir aos ataques e no ato de tentar pegar o punhal do garoto acabou levando uma rasteira e caindo no chão, o garoto rapidamente também agarrou uma pedra e bateu com ela na cabeça do outro soldado derrubando-o e tendo tempo de fugir. Sabia que agora o lugar em que poderia se esconder era Jerusalém, onde a multidão serviria de camuflagem a ele.

O garoto correu bastante, mas acabou cansando e se escondeu pelo caminho, mas sabendo que continuaria a ser procurado resolveu ir de vez a Jerusalém, onde pretendia passar a noite até que se sentisse seguro. Assim que chegou na grande cidade o jovem sabia que teria que ser cuidadoso, não podia deixar-se ser notado, ao chegar no mercado da cidade, abanou para algumas pessoas como se estivesse cumprimentado-os, passou por uma banquinha e discretamente pegou uma maçã. Aí as coisas pioraram quando ele meio desatento deu de cara com um soldado romano, e era logo o soldado que algumas horas antes estava disfarçado na estrada enfrentando o jovem batedor. "Então aí está você, não vou pegar leve dessa vez.", disse o guarda acertando um soco que possivelmente quebrou um dente de Samá, depois o estômago do rapaz é que foi o alvo do punho do soldado. O garoto caído ficou sem reação e foi preso, levado a prisão da cidade, onde acreditava que teria seu futuro encaminhado para minas onde passaria o tempo trabalhando com carregamento. Mas ao chegar em sua cela, ele notou um homem diferente dos outros que havia visto na prisão, o homem estava sentado num canto de olhos fechados proferindo algumas palavras em voz baixa, parecia estar orando. De repente o homem abriu os olhos e levantou-se para perto de Samá, estendeu-lhe a mão e notou a estranheza no rosto do garoto, "Prazer, me chamo Tiago, você deve ser meu novo companheiro de cela, como se chama?", disse o homem que devia ter uns 50 anos e usava roupas velhas. "Bem, me chamo Samá.", disse o rapaz gaguejando por achar tratar-se de um louco. "Não se preocupe comigo, acho que vou embora amanhã.", disse Tiago tentando parecer amigável, mas o garoto só o estranhou mais e perguntou "Você será liberto?", "Infelizmente não, nem sequer transferido, acho que vão me matar.".

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