"No princípio era o nada, mas o Eterno disse 'Haja Luz!' e houve luz. O nada se tornou tudo e o Eterno viu que era bom." As palavras do pai encantavam o filho Samá, as histórias que o pai contava envolviam e emocionavam a mente do garoto. Mas o tempo passou, a crise tomou conta de boa parte da Judeia, o pai morreu, e Samá ficou a margem de uma sociedade oprimida pelos romanos e cheia de ódio e egoísmo, parecia que as histórias de um Deus poderoso e cheio de amor haviam ficado para trás, não parecia haver esperança nas mentes daquele povo. O jovem Samá parecia ser o reflexo daquela sociedade, virou um batedor que roubava dos ricos mercadores que viajam pela estrada para Jerusalém. Se perguntava se aquilo era o que faria por toda vida, sonhava com uma vida como a que seu pai queria, mas não via muitas esperanças, se enxergava como uma vítima, colocava a culpa de tudo aquilo em Deus e nos outros. Será que haveria saída para ele?
O rapaz observava o movimento calmo na estrada a alguns quilômetros de Jerusalém. De repente viu a uns duzentos metros um possível alvo, era um homem que viajava sozinho, parecendo ignorar os perigos da estrada. Ao passo de que o homem ia se aproximando, Samá ia se posicionando para atacá-lo, e observando o homem para descobrir onde ele estaria carregando o dinheiro. Talvez por estar tão concentrado no seu alvo, ele nem notou que não muito atrás vinha um outro homem em um cavalo, esse era notavelmente um soldado romano. Assim que o primeiro homem passou, Samá o atacou, pulou sobre ele já gritando, ordenando que entregasse o dinheiro. Mas ao invés de espanto, a expressão facial do suposto viajante foi um sorriso: "Te peguei seu ladrãozinho!", era um soldado disfarçado que logo desferiu um golpe contra Samá, derrubando-o. O garoto não demorou a reagir, havia aprendido a lutar, afinal seu estilo de vida não tendia a ser pacífico, acertou um chute na perna de seu adversário que logo recebeu reforço de seu parceiro que vinha logo atrás, agora eram dois soldados treinados contra o garoto. Mas ele não desistiu, não podia ser pego. Desviou um soco de um dos soldados e acertou um no braço do outro, mas não pareceu ser muito eficaz. Finalmente achou um espaço de tempo para pegar o punhal que havia deixado cair. Conseguiu causar um arranhão no rosto de um dos soldados, que não exitou em pegar sua espada e atacar o garoto que sentiu o golpe mas ficou de pé. O soldado que estava disfarçado, não tinha com o que reagir aos ataques e no ato de tentar pegar o punhal do garoto acabou levando uma rasteira e caindo no chão, o garoto rapidamente também agarrou uma pedra e bateu com ela na cabeça do outro soldado derrubando-o e tendo tempo de fugir. Sabia que agora o lugar em que poderia se esconder era Jerusalém, onde a multidão serviria de camuflagem a ele.
O garoto correu bastante, mas acabou cansando e se escondeu pelo caminho, mas sabendo que continuaria a ser procurado resolveu ir de vez a Jerusalém, onde pretendia passar a noite até que se sentisse seguro. Assim que chegou na grande cidade o jovem sabia que teria que ser cuidadoso, não podia deixar-se ser notado, ao chegar no mercado da cidade, abanou para algumas pessoas como se estivesse cumprimentado-os, passou por uma banquinha e discretamente pegou uma maçã. Aí as coisas pioraram quando ele meio desatento deu de cara com um soldado romano, e era logo o soldado que algumas horas antes estava disfarçado na estrada enfrentando o jovem batedor. "Então aí está você, não vou pegar leve dessa vez.", disse o guarda acertando um soco que possivelmente quebrou um dente de Samá, depois o estômago do rapaz é que foi o alvo do punho do soldado. O garoto caído ficou sem reação e foi preso, levado a prisão da cidade, onde acreditava que teria seu futuro encaminhado para minas onde passaria o tempo trabalhando com carregamento. Mas ao chegar em sua cela, ele notou um homem diferente dos outros que havia visto na prisão, o homem estava sentado num canto de olhos fechados proferindo algumas palavras em voz baixa, parecia estar orando. De repente o homem abriu os olhos e levantou-se para perto de Samá, estendeu-lhe a mão e notou a estranheza no rosto do garoto, "Prazer, me chamo Tiago, você deve ser meu novo companheiro de cela, como se chama?", disse o homem que devia ter uns 50 anos e usava roupas velhas. "Bem, me chamo Samá.", disse o rapaz gaguejando por achar tratar-se de um louco. "Não se preocupe comigo, acho que vou embora amanhã.", disse Tiago tentando parecer amigável, mas o garoto só o estranhou mais e perguntou "Você será liberto?", "Infelizmente não, nem sequer transferido, acho que vão me matar.".
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