A vida é cheia de armadilhas. Em meio a tantas, é difícil não cair em nenhuma. Algumas podem ser fatais e nos colocar em becos sem saída. Em situações em que tudo parece cooperar para o mal, uma luz irradia nas sombras. Aquele que se sacrificou por nós é o único que pode nos salvar. Na história de hoje conheceremos a história de pessoas que foram ao fundo do poço para conhecerem a verdade que liberta. Só mesmo um Deus com tamanha compaixão para fazer por nós o que Ele fez. Continue acompanhando o impressionante relato de um homem que zombou de Jesus, mas que descobriu o poder de sua graça.
- Eu nasci em Jerusalém e passei toda a minha juventude lá. Como você, Cornélio, era um nobre. Meu tio era membro do Sinédrio judeu e toda a minha família era influente na cidade. Meu pai era um dos líderes da Sinagoga. Você entende da cultura judaica, portanto deve saber como eramos conhecidos em Jerusalém. Cresci e me tornei um indivíduo respeitado. Ainda na faixa dos 20 anos me tornei uma figura de respeito entre o povo. Não quero me gabar, mas entendia muito de política e da lei de Moisés, a lei que nós judeus seguimos. Entre o público me tornei uma figura carismática. Acho que, em minha história, é importante que eu diga que apoiava o movimento zelote, embora jamais tenha me filiado a eles. Logo me tornei um membro do Sinédrio. Era conhecido como a voz da juventude entre os líderes judeus.
Cornélio olhava atentamente para o homem que lhe contava a história. Nem notou na chuva que começava a cair, mas o homem notou e chamou a atenção para isso.
- É melhor nos abrigarmos, vai vir um temporal. - disse o homem.
- Conheço um ótimo abrigo aqui perto, espero que não se importe de ficar lá, há outros mendigos e meretrizes por lá...
- Tenho uma ideia melhor, passe a noite conosco.
- Não se importaria de ter um maltrapilho em suas dependências?
- Claro que não. Além disso, meu amigo e sua família tem um quarto sobrando na casa onde me hospedo. São cristãos também. Acho que ficariam felizes em recebê-lo.
Os dois se levantaram e foram correndo para a casa onde ficariam a noite.
Lá, combinadas as coisas com os donos da casa, os dois homens se sentaram, enquanto os anfitriões foram preparar os quartos e fazer comida. O homem continuou sua narrativa:
- Casei-m tão cedo quanto me tornei popular. Tenho três filhos. Mas, enfim, estamos aqui para falar de Jesus, não de mim, não é mesmo? Jesus era um pregador da época que ganhou fama. Seus ensinos atraíam multidões, tanto pela sua mensagem quanto pela sua capacidade de curar pessoas. Naquele tempo, Ele ficou tão famoso que muitos aderiram a seus ensinos. Falavam que ele era o Messias esperado pelos judeus. Você conhece a profecia do Messias, não é mesmo?
Cornélio assentiu que sim com a cabeça. O homem continuou:
- Jesus tinha uns 30 anos quando começou a pregar. Seus ensinos eram sobre um Reino em que tudo seria perfeito. Ele falava de paz, da lei e de muitas outras coisas. Seus ensinos eram tão corretos e tão bons de se ouvir, mas haviam também aqueles que duvidavam de Jesus e o consideravam uma ameaça. Nós do Sinédrio tínhamos receio de perder o poder para Ele e passamos a persegui-lo.
O homem parou um pouco. Sua expressão parecia triste ao lembrar do ódio que nutriu por Jesus.
- Nós procurávamos algo para acusá-lo - continuou o homem - e parecia difícil de encontrar. Embora seus ensinos fossem controversos para nós, ele não transgredira a lei nunca, exceto por alguns excessos que nós judeus considerávamos pecado. Enfim, ele nem mesmo incitava o povo contra os romanos. Falava de um reino futuro, no paraíso, não em um reino na Terra. Na época da páscoa, entretanto, foi que nós nos irritamos mesmo com Jesus. Ele entrou em Jerusalém ovacionado pelo povo que o recebeu com ramos e festa. Confesso que eu, uma figura emblemática entre o povo, senti inveja. Na mesma semana, Jesus causou um rebuliço no templo ao condenar e destruir a venda de objetos no templo. No fundo ele estava certo, mas nós, cegos de ódio, buscávamos algo para acusá-lo. Confrontamos a ele algumas vezes, tentando fazer com que Jesus tropeçasse em suas palavras, mas Ele parecia perfeito. Por fim, decidimos que prenderíamos Jesus e depois arranjaríamos uma mentira para acusá-lo. Foi aí que surgiu Judas, um discípulo de Jesus. Ele disse que estaria disposto a entregar a localização de Jesus durante a madrugada, onde poderíamos o prender sem alarde. Dito e feito, o prendemos num local chamado Monte das Oliveiras. Naquela mesma madrugada arranjamos testemunhas para falar contra Jesus. Foram pagos para mentir é claro. Era a sexta-feira que comemorávamos a Páscoa. Jesus foi levado a Pilatos, depois a Herodes e novamente para Pilatos. Convencemos Pilatos a predê-lo, mas o ele, o governador romano da região, não via em Jesus injustiça alguma. Decidiu seguir um antigo costume de libertar um prisioneiro na Páscoa e colocou diante do povo a Jesus e a um bastardo zelote que matara soldados romanos em um atentado. Eu mesmo incitei o povo a gritar por Barrabás. Esse era o nome do zelote. Gritaram por ele e decidiram que Jesus seria preso. Pilatos disse que chicotearia Jesus e o soltaria, mas eu, mais uma vez, puxei o grito "Crucifica!". O povo ficou eufórico gritando para que matassem Jesus. Pilatos, fraco como era, mandou que o crucificassem. Triunfamos. Jesus foi açoitado e lhe colocaram uma coroa de espinhos, afinal Ele dizia ser o Rei dos Judeus. Ainda pela manhã, Jesus foi conduzido ao Gólgota, um local próximo a Jerusalém onde se crucificavam os piores criminosos. Jesus não cometera crime algum. A multidão se aglomerou pelo caminho. Eu e outros íamos correndo pelo caminho gritando xingamentos a Jesus, que carregava a própria cruz. Ao chegar, pregaram Jesus na cruz. Pregos em sua mãos e pés. A agonia dEle é inimaginável.
- Então você percebeu seu erro, pediu perdão e mandou soltar Jesus. - tentou adivinhar Cornélio que se concentrara na história o tempo todo.
- Quem dera a mim ter o feito. Eu zombei de Jesus ali. Disse-lhe que descesse da cruz, afinal era o Filho de Deus. Zombei dele por horas. Os soldados pegaram as vestes de Jesus e as apostaram. Eu mesmo participei da aposta. Jesus mesmo disse: "Perdoa a eles, Pai (Ele se referia a Deus), pois não sabem o que fazem." Por fim, no início da tarde, Jesus morreu. Eu já tinha saído de lá quando isso aconteceu.
- Não entendo. Como ele o salvou se morreu?
- Você deve entender as coisas. Jesus desceu do céu e veio a Terra. Mais tarde entendi uma coisa. Jesus veio para morrer por nós, pela humanidade que pecou. Ao morrer, ele ofereceu a oportunidade de salvação a todos. Com sua morte, abriu uma porta para que todos tivessem a chance de viver com Ele.
- Mas por que Jesus faria isso?
- É difícil de entender. Mas é assim mesmo. O amor de Jesus é incompreensível. É maior que qualquer coisa. Sua compaixão é inimaginável.
- Você tem razão. Estou convencido de que Jesus pode me salvar. Mas como posso ter certeza de que Ele realmente é o Messias e é O Filho de Deus?
- É uma questão de fé. Tem que crer sem ver. Sua experiência com Deus é pessoal, mas eis algo que talvez ajude em seu convencimento. No domingo seguinte, os guardas do túmulo de Jesus relataram um terremoto e um anjo que abrira o sepulcro para Jesus, que havia sumido. Nós do Sinédrio subornamos os guardas e espalhamos a história de que o corpo fora roubado pelos discípulos de Jesus, mas no fundo sabia a verdade. Depois surgiram boatos de que Jesus fora visto subindo aos céus. Isso me incomodava. Com o tempo percebi que Jesus era realmente o Messias. Com tantas provas era impossível que eu negasse isso. Larguei o Sinédrio e virei um entregador. Pode parecer loucura, mas carrego comigo a certeza de que Jesus me salvou, ressuscitou e está vivo. Um dia virá para me levar ao paraíso. Todo dia, ao deitar, ao levantar e ao andar pelas ruas, eu sinto a presença de Jesus.
Cornélio começava a compreender tudo. Também já havia sentido Jesus durante as noites frias, algo estranho, uma voz em sua cabeça que o confortava. Daquele dia em diante ele se tornou um Cristão e começou uma nova história ao lado de Jesus.
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