"fui marginalizado pelos meus companheiros e agora estou aqui, odiado por aqueles que eram meus amigos e procurado por poderosos inimigos." Essas são algumas palavras do diário de Caleb, um renegado soldado do movimento de resistência zelote. Sem ter para onde ir ele acha refúgio na casa de um velho que contará uma história que mudara sua vida.
Eu não sei quem está lendo, onde você está ou em que época você está. Que droga! Eu não sei nem se tem alguém que está lendo isso. Nem sei se o mundo vai acabar hoje, mas acho que pra mim acaba. Se isso importar para você me chamo Caleb, isso deve faze-lo lembrar do grande juiz que ajudou Josué, mas acho que não tenho nada a ver com ele. Ele é lembrado por sua coragem e eu se for lembrado por algo coisa será por ser covarde. A região toda está um caos, principalmente Jerusalém de onde eu venho. Os romanos estão por toda a parte, eles nos pegaram em cheio desta vez, estão queimando tudo, levando prisioneiros e matando vários. Acho que a guerra acabou, infelizmente não foi como os zelotes queriam. Eu costumava ser um deles, mas acho que minhas atitudes recentes me tiraram este titulo. Alguns dias atrás eu e uns quatro companheiros fomos capturados pelos romanos, eles nos levaram ao seu acampamento, não são monstros como alguns dizem, até que foram civilizados conosco, mas não foram amigáveis. Nos deram comida, coisa que em Jerusalém é raro tem alguns meses. Começaram com algumas perguntas, como não respondemos satisfatoriamente seus métodos menos civilizados começaram a tomar conta do interrogatório. Fomos torturados, acho que foi durante a noite toda, meus companheiros não falaram nada, mas eu... eu não foi forte, contei tudo o que eles queriam. Dias depois consegui fugir do acampamento romano, mas quando encontrei com meus compatriotas tudo que encontrei foi reprovação, fui marginalizado pelos meus companheiros e agora estou aqui, odiado por aqueles que eram meus amigos e procurado por poderosos inimigos. Eu nem sei onde estou, mas tenho que continuar andando, quero chegar em Jericó até o anoitecer, minha mãe era de lá antes de ir morar em Jerusalém, mas sinto que não vou conseguir eu estou realmente me sentindo mal.
- Ei, parece que você finalmente acordou. - uma voz amigável me acordou, era um senhor de idade, acho que tinha uns 90 anos - você não parecia bem quando o achei ontem.
- Bem, eu... onde estou? Em Jericó? - perguntei atordoado.
- Na verdade, está nos arredores da cidade. - ele respondeu - Mas não sei o que quer aqui, Jericó não é o lugar mais seguro nessa época.
- Eu venho de Jerusalém. - respondi me sentando na cama.
- Oh! - ele exclamou - então acho que qualquer lugar é seguro pra você. - e deu uma risadinha - Tome, você precisa comer - me disse ele dando-me um prato com um ensopado.
- Obrigado. - respondi pegando o pequeno prato.
- Então Caleb pra onde você pretende ir? - ele perguntou
- Como sabe meu nome?
- Ah, eu tomei liberdade de ler aquele seu diário, precisava saber quem você era. - ele se justificou.
- Quanto você leu? - perguntei demonstrando insatisfação.
- Só a última parte. - disse ele.
- Então já deve imaginar pra onde quero ir. A propósito qual seu nome?
- Eu não faço ideia de pra onde queira ir e não creio que o nome de um velho faça diferença para você.
- Só quero saber se nos conhecemos. Minha mãe era de Jericó e eu vim visitar meus avós aqui algumas vezes.
- Creio que não pessoalmente. - ele respondeu. - Mas afinal pra onde você vai?
- O senhor tem alguma faca ou punhal aqui?
- Pra que você quer uma faca?
- Se realmente leu o que escrevi sabe que tenho vários motivos pra tirar minha vida.
- Eu não faria isso se fosse você. - disse ele muito sereno.
- O que você sugere? Eu sou odiado por todos.
- Eu também já me senti assim. Até que descobri que há sempre alguém que nos ama.
- Quem? - perguntei sarcasticamente como se tivesse esperança.
- Você não acredita em Deus? - ele perguntou - parece que você só está vivo por intervenção divina.
- Se depender de Benjamin, meu chefe no exército zelote, não. Ele disse que Deus iria me castigar e me humilhou na frente de todos meus companheiros.
- Acho que essa história vai lhe ajudar: - começou ele - Aqui mesmo em Jericó vivia um homem chamado Zaqueu.
- Já ouvi falar, mas não lembro direito. - comentei me ajeitando na cama.
- Zaqueu era um cobrador de impostos, - começou - odiado por todos assim como você e eu - ele pareceu exitar nessa hora - ele além de cobrar os pesados impostos pros romanos ainda enganava o povo e cobrava taxas a mais para enriquecer. Ele conseguiu muito dinheiro assim, tinha tudo que o mundo podia oferecer, mas sentia-se vazio, sentia que nem mesmo sua família o admirava mais e era odiado pelo povo, até que um dia ele ouviu que Jesus, o mestre passaria pela cidade.
- Você acredita que esse Jesus foi o Messias? - o interrompi.
- Acredito firmemente que ele ainda é, mas deixe-me continuar. Quando soube que o grande mestre Jesus passaria por Jericó, Zaqueu viu a oportunidade de sentir-se completo, era sua chance de encontrar respostas que procurava. Mas Zaqueu era tímido e odiado, não teve coragem de se misturar a multidão e ir falar com Jesus, mas pelo menos queria vê-lo, mas como era baixinho...
- Você chamando alguém de baixinho. - interrompi novamente com um leve sorriso.
- Ainda não temos a intimidade de fazer piadas com meu tamanho. - respondeu ele rindo de novo - mas continuando, como era baixinho Zaqueu subiu numa árvore para ver Jesus passar, mas algo surpreendente aconteceu...
- Ei! - uma grito interrompeu nossa conversa. - preciso de ajuda! - eu conhecia aquela voz. Meu idoso amigo foi auxilia-lo e o trouxe até o quarto que estávamos acomodando-o em uma cama ao lado e o homem logo desmaiou, eu logo vi quem era.
- Você conhece este homem Caleb? - perguntou o velho vendo meu olhar.
- Sim, lembra-se de Benjamin, o homem que me humilhou, é ele! - disse pegando um punhal que havia visto em uma mesa e fazendo uma cara de nervoso.
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