Você provavelmente já ouviu falar dele. Ele é o pai das duas maiores religiões do mundo. Foi um líder militar. Um peregrino. Alguém diferente de todos a sua volta. Presenciou milagres. Foi um exemplo para sua geração. O pai da fé. Abraão. Um homem que arriscou tudo que possuía por uma voz até então desconhecida. Não é a toa que seu nome é reconhecido pelo mundo todo. Nas próximas semanas vamos conhecer sua história. Desde seus primórdios na Babilônia até o legado que ele deixou para o mundo. Hoje nossa jornada começa na adolescência do pai da fé. Um jovem pagão, especial, que resolve descobrir mais sobre suas origens.
- Abrão! Venha cá! - dizia a voz vinda de dentro da tenda.
- Abrão! Venha cá! - dizia a voz vinda de dentro da tenda.
O jovem, sempre atento, interrompeu seus afazeres e foi em direção ao adornado local. A voz que ele logo identificou como sendo de Tera, seu pai o chamou novamente.
- Já estou indo. - Respondeu o jovem.
Na tenda, diversos ídolos estavam expostos em estantes e mesas. Ali, Tera, seus filhos, filhas e mulheres se curvavam reverentemente. Palavras ditas pelo patriarca mostravam a solenidade da ocasião. Aquilo era feito diariamente pelo fim da tarde. Abrão se sentia um pouco envergonhado naquela situação. Seus recentes estudos o levaram a questionar a veracidade dos deuses ali representados, mas ele se curvava mesmo assim. Tinha medo do que seu pai faria se descobrisse sobre as pesquisas do adolescente. Abrão se sentia um peixe fora d'água.
No outro dia, logo pela manhã, Abrão saiu do "acampamento" onde sua família morava. O local era imenso e se encontrava próximo a entrada da cidade de Ur. Ali, casas feitas de tijolos de barro e tendas se misturavam. Além de Tera, suas diversas mulheres e filhos e os empregados morava ali. Era muita gente. Abrão, Naor e Harã eram os mais honrados no clã. Eram filhos da mesma mãe, a esposa mais importante de Tera. Abrão tinha um amigo em especial que sempre o acompanhava, era Jairo, filho de um pastor de ovelhas que pastoreava os rebanhos de Tera. Os dois sempre estavam juntos e confiavam plenamente um no outro. Naquela manhã, Jairo tentava ser a voz da razão para Abrão.
- Você não está pensando em ir na biblioteca da cidade, está?
- Claro, vou continuar minha pesquisa.
- Mas Abrão, se seu pai descobre que você é um herege do Deus Lua sabe-se lá o que ele faria!
- Não me importo. Tenho que descobrir a verdade. Você sabe muito bem que estou certo!
- Eu sei, mas... tenho medo!
- Sinto que o verdadeiro Deus não vai nos deixar na mão.
- Verdadeiro Deus? De onde vem essa convicção?!
- Ele existe e nos protege. Protegeu Noé na grande chuva e ai nos proteger.
- Ah Abrão! Pare de falar besteiras! Noé nunca existiu. Os deuses criaram este mundo e não teriam motivo para destruí-lo.
- Besteira? Como você pode não crer? Os escritos que achamos na biblioteca dão cabo disso. Além disso eles falam sobre alguns mandamentos de Deus para os fiéis, fala de Enoque...
- Quantas vezes terei de dizer-lhe que deixe isso. Noé é uma lenda!
- Uma lenda? É o que veremos, amanhã vamos subir o monte e veremos se é uma lenda.
- Não está pensando em ir falar com o ermitão? Ele é só um velho! Seu pai o proibiu expressamente de ir para a montanha!
- Eu digo pra ele que eu e você vamos sair para pastorear por uns dias e vamos pra lá.
- Não me meta nas suas loucuras!
- Por favor Jairo, é importante pra mim.
- Está bem, está bem. Mas, mudando de assunto, como vai Sarai?
- Por que eu saberia disso, deve ir bem.
- Não se faça de inocente, você é apaixonado por ela. Garanto que seu pai aprovaria os dois.
- Não me provoque. Eu e Sarai, bem...
- Poderíamos levar ela junto na viagem.
- O que? Você está louco. É confidencial e ninguém pode saber...
- Ah, não se faça Abrão. Se você pretende casar com ela é bom que ela tenha as mesmas crenças que você. Além disso, poderia aproveitar a situação para cortejá-la.
- Não fale besteira, somos jovens demais para casar. Mas ela poderia ir, para a viagem não ser tão chata ao seu lado.
- Hahahahah! Vou providenciar para que ela vá conosco.
Abrão se despediu do amigo e foi para a biblioteca. Lá, leu um pouco sobre a origem do mundo e Adão e Eva. Leu também sobre Matusalém. Ficou maravilhado. Ninguém em seu tempo conseguiria viver tanto tempo.
No outro dia, Abrão, Jairo, Sarai e alguns poucos servos, além das ovelhas partiram em direção a montanha. Ao chegarem, montaram acampamento e descansaram. Na manhã seguinte, Abrão e Jairo, arrumaram uma pequena bagagem e se preparam para partir. Teriam de ser discretos para não serem vistos pelos servos. Sarai, persuadida por Jairo também foi junto. Eles haviam dito que iriam dar uma volta para procurar chifres de bois e fazer trombetas. No meio do caminho, ao chegarem ao pé da montanha, Sarai estranhou o comportamento dos amigos e perguntou:
- Não estamos catando chifres, não é mesmo? Vocês querem subir a montanha! Saibam que não podemos fazer isso. Quero uma explicação viável para esse ato de desobediência.
Abrão, virou-se e, prontamente, deu a resposta que deixou Sarai boquiaberta.
- Nós vamos subir a montanha, vamos visitar o velho, vamos descobrir mais sobre o dilúvio. Vamos falar com Sem, filho de Noé!
Na próxima semana: Abrão descobre mais sobre o passado do mundo, mas as consequências de sua aventura batem a porta!
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