- Como será que Daniel está agora? - perguntou o jovem de barba aparada e roupas finas enquanto andava de um lado para o outro demonstrando ansiedade.
- Daniel é a menor de nossas preocupações agora. - respondeu o outro que estava sentado ao lado, pensativo ele usava uma bela túnica e jogava uma moeda de prata babilônica de uma mão para outra.
- Mas se ele estivesse aqui com certeza nos ajudaria a decidir o que fazer. - disse o outro, enquanto lia algumas leis babilônicas, procurando uma brecha para encaixar a si e a seus companheiros.
Misael, Hananias e Azarias eram companheiros inseparáveis, Daniel completava o quarteto, ambos eram da alta classe judaica e haviam sido levados cativos para a Babilônia quando sua cidade natal, Jerusalém, havia sido sitiada. Embora houvessem crescido num período de idolatria de seu povo, eles eram de famílias que ainda presavam pela moralidade e guardavam as leis de Moisés. Mesmo indo para um lugar distante, os quatro haviam feito um trato de não se corromperem e continuar servindo ao Deus de Israel mesmo em um período que prometia ser de provações. E de fato, haviam cumprido a promessa, quando foram apresentados as iguarias reais que deveriam comer eles se recusaram a comer o que Deus havia declarado como impuro, mesmo sendo reprovados por isso, mas depois provaram que sua dieta saudável os havia feito mais fortes e saudáveis. Além do mais, sua inteligência e empenho eram superiores a dos jovens caldeus, por isso haviam sido prestigiados pelo rei Nabucodonosor e recebido posições de autoridade entre os jovens sábios do rei. Depois foi com muita oração dos quatro que Daniel chegou a uma interpretação de um sonho de Nabucodonosor que havia sido considerado impossível de interpretar pelos mais notáveis sábios e magos das nações as quais Nabucodonosor e seu pai Nabopolasar haviam subjugado.
Mas agora era diferente, Daniel havia sido mandado em diplomacia para outro reino e os três companheiros estavam sozinhos nessa. O rei havia mandado construir uma grande estátua de ouro para sua própria honra. Viriam representantes de várias partes do mundo para prestar sua homenagem e culto ao grande rei caldeu que estava se autodeclarando um deus. Mas os pensativos companheiros hebreus tinham um voto a cumprir, não se entregariam aos costumes babilônicos traindo a aliança de Deus com seu povo, sabiam que Deus honraria aos que se mantivessem fiéis a ele.
- Não adianta ficar procurando leis babilônicas Azarias - disse Hananias se levantando - acho que todos já sabemos o que devemos fazer.
- Amanha, quando os instrumentos soarem, não nos curvaremos. - completou Misael firmemente.
- Exatamente - concordou Azarias - mesmo que ele nos ameace jogar na tal fornalha ardente.
A fornalha ardente, era como um grande forno, em que cabiam algumas pessoas, era tão quente que diziam que as vítimas não precisavam nem entrar na fornalha para serem sufocadas pelo calor ou queimadas pelo fogo. Mas os fiéis jovens não ligavam para isso, Deus daria o rumo de suas vidas, não Nabucodonosor ou qualquer outro humano.
- Nabucodonosor é um bom homem, lembro-me que ele já chegou a reconhecer o poder de nosso Deus, mas as vezes deixa o ego se sobrepor. - exclamou Misael.
- E ainda adora os falsos deuses babilônicos - completou Azarias - é uma pena que não deixe as evidências falarem.
- Então, estamos decididos, amanha ficaremos de pé, quando os outros se curvarem, com certeza algum outro judeu ficará de pé também, soube que alguns dos moradores remanescentes de Jerusalém virão.
No outro dia os três amigos estavam em frente a estátua junto com milhares de pessoas, todos na multidão estavam eufóricos, conversavam sobre vários assuntos, embora o mais comentado fosse mesmo a grandeza da estátua construída em homenagem ao monarca caldeu. Quando os guardas começaram a se alinhar e os músicos foram aparecendo com seus instrumentos a multidão foi se aquietando e se virando para olhar as solenidades que antecederiam o momento em que todos deveriam demonstrar sua adoração por Nabucodonosor.
-É agora, preparem-se. - disse Misael olhando para seus amigos.
Após as solenidades e o anúncio das instruções sobre o que deveria ser feito quando os músicos tocassem seus instrumentos.
Quando o som ecoou pela cidade, todos se curvaram em reverência aquele rei que havia se auto-proclamado um Deus. Azarias, Misael e Hananias entretanto não se curvaram, eles olhavam para o lado procurando algum outro corajoso que havia se colocado contra as regras do rei. Um ou dois haviam permanecido de pé, mas o olhar enfurecido dos guardas os fizeram se curvar também, mas os três companheiro não se abalaram e ficaram em evidência no meio de toda uma multidão.
- Meu rei - disse um guarda se ajoelhando em frente a Nabucodonosor - identificamos aqueles que não quiseram se curvar. São Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os hebreus que o senhor colocou como seus conselheiros. (Sadraque, Mesaque e Abede-Nego eram os nomes que Hananias, Misael e Azarias haviam recebido na Babilônia)
- Oh não! - exclamou o rei - logo eles. Achei que seriam fiéis a mim. Havia me esquecido que sua fé no tal Deus Iavé deles era tão forte. Dê mais uma chance a eles, toquem os instrumentos novamente.
Mas não adiantou nada as oportunidades dadas pelo rei aos fiéis hebreus que foram chamados para darem esclarecimento diante do rei.
- Meu rei - começou Hananias - queremos demonstrar nosso profundo respeito pelo senhor e esclarecer-lhe de que não temos nenhum espírito revoltoso contra seu reinado.
- Senhor, apenas estamos mantendo nossa lealdade ao nosso Deus. - completou Azarias dando um passo a frente.
- Já chega! - disse o rei já irritado - desculpas não vão adiantar, eu quero ações, curvem-se ou serão castigados com fogo!
- Meu rei... - tentou argumentar Misael, mas foi interrompido.
- Não nego meu apreço por vocês, mas essa é uma ofensa imperdoável contra a coroa babilônica, me adorem logo! - disse o rei.
- Senhor, não nos curvaremos sobre qualquer imagem e pode nos jogar em sua fornalha, pois sabemos que o Deus do céu a quem servimos tem o poder de livrar-nos. - disse o firme Azarias.
- E saiba o rei, que nada nos fará nos curvarmos. - completou Hananias
Misael não parecia menos firme que seus colegas e encarava o rei com uma expressão séria.
- Já chega, esgotaram minha paciência! - disse o furioso rei.
- A fornalha já esta preparada - disse um conselheiro.
- Não! - disse Nabucodonosor - aqueça sete vezes mais!
Os soldados mais fortes do exército levaram os amarrados hebreus para aquele que deveria ser seu momento final. Mas a temperatura da fornalha fez com que os soldados não suportassem o calor e cedessem a morte. Os prisioneiro entretanto foram lançados no fogo. Nabucodonosor olhava satisfeito ao juízo dado para aqueles que se oporam a sua ordem. De repente o olhar de satisfação deu lugar a um olhar de espanto!
- Não eram apenas três que foram jogados na fornalha?! - perguntou a um conselheiro.
- Sim senhor, mas eu também vejo quatro pessoas! - respondeu o espantado conselheiro.
- E o quarto é semelhantes ao filho dos deuses - disse o rei se levantando - será possível que... - os pensamentos do rei se voltaram as palavras ditas por suas vítimas instantes atrás, o Deus dos hebreus havia livrado os fiéis adoradores - Saiam! - exclamou o rei - servos do Deus de Israel.
Ao constatar junto com seus conselheiros que os três rapazes nem sequer cheiravam a queimado, o rei exaltou o Deus de Israel, inclusive promulgando um decreto que proibia que ofendessem o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego.
Se você é confrontado diariamente por provas e lutas, confie no Deus do céu a quem servimos, pois ele tem o poder de lhe fazer vencer!
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